Descrição
Sobre o livro
Anos atrás, aprendi com Milton Santos que metade da população não come, e que a outra metade não dorme com medo da que não come. Esse mundo nos empurra sempre a versão da história da metade que come mas não dorme. Com a Helena Silvestre, ouvimos as vozes daquela primeira metade, que já não é mais uma-metade, são Marinete, o Seu Juarez, têm rostos, histórias, corpos e desejos-fomes. O subtítulo faz parecer que são todos relatos do período pestilento. E eles até são. No entanto, há aqui muito do que já existia antes de usarmos as máscaras, tanto do que é exploração quanto do que é resistência (é que “a camada da peste ofusca todas as outras”). Ainda assim, é um livro escrito na pandemia, e isso se reflete nos pensamentos que emergem de um isolamento prolongado. Em Quem me dera quedas d’água, Helena retoma a organização das ideias por meio das notas (em seu primeiro livro, sobre a fome; agora, sobre a peste), que contam histórias que, de tão reais, às vezes são difíceis de se acreditar. Vai do causo à causa. Sua escrita parte de uma realidade que é vivida antes de ser teorizada, as palavras chegam depois para dar nome ao que existe como ação. Consequentemente, apresenta à pessoa leitora um pouco do cotidiano de movimentos populares, da ação concreta, desde os perrengues de chegar a quem não tem bilhete de entrada para o mundo informatizado, às alegrias solenes de um churrasco inusitado. E quando nos perdemos em pensamentos buscando termos e categorias abstratas, ela nos lembra que também somos corpo, um corpo que pulsa e deseja na matéria. Helena Silvestre milita em movimentos de moradia desde os 13 anos de idade. Irrequieta, essa mulher afro-indígena vive o que chamou de feminismo inominável e marxismo favelado. Enquanto isso,celebra a vida e agradece, como só quem tem pouco sabe agradecer. (Talvez possamos escapar).
Cecília Farias – Amiga de quebrada e de passeata, tradutora feminista, produtora do Babel PodCast e linguista pesquisadora do Museu da Língua Portuguesa.
Sobre a autora | Helena Silvestre
Descendente de raízes paraibanas brotada na periferia da margem. Nascida em Mauá, SP, em 1984, desde quando se movimenta por quilombos urbanos e aldeias. Ativista das lutas pela libertação de corpos, territórios e pensamentos colonizados, em favelas e ocupações, em coletivos e comunidades. Feminista afroindígena e co-editora da Revista Amazonas no Brasil, é também educadora popular na Escola Feminista Abya Yala e integrante do Sarau do Binho. Escritora, publicou Do Verbo que o amor não presta, em 2018 e Notas sobre a fome em 2019 – este último um dos finalistas do Prêmio Jabuti 2020, traduzido ao espanhol em 2021 e publicado neste mesmo ano pela Mandacaru Editorial, em Buenos Aires. Compõe, dança, canta, fala um bocado e investiga caminhos de amor nos buracos de si mesma.
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