Descrição
Sobre o livro Cochichos de amor e outras alquimias
Cochichos de amor e outras alquimias acompanha a viagem de Luzia, fugindo de casa, buscando liberdades, entendendo-se tardiamente como mulher e despencando em relações de amor cruzadas por gênero, raça e classe. “O livrinho explicava como as mulheres engravidam, tinha desenhos dos órgãos sexuais e contava biologicamente o que era uma relação sexual, com desenhos de girinos de sapo correndo pra chegar numa bola de carne atraente pra eles.
Ela devorou o que leu.
Mas ninguém conversava com ela sobre nada disso.
Quando menstruou pela primeira vez, com vergonha de contar, roubou um absorvente da mãe e o colocou ao
contrário, achando que fazia sentido que a cola estivesse aplicada diretamente na vagina pra que a fralda não se
movesse.
Ainda bem que tinha Almira, ainda bem que tinha as mulheres da militância, que falavam disso mesmo sem ser
perguntadas e explicavam que a hora certa quem decide é cada uma, que as mulheres gozam e desejam prazer e afago, e que sempre podem igualmente não querer”.
Sobre o livro Quem me dera quedas d’água
Anos atrás, aprendi com Milton Santos que metade da população não come, e que a outra metade não dorme com medo da que não come. Esse mundo nos empurra sempre a versão da história da metade que come mas não dorme. Com a Helena Silvestre, ouvimos as vozes daquela primeira metade, que já não é mais uma-metade, são Marinete, o Seu Juarez, têm rostos, histórias, corpos e desejos-fomes. O subtítulo faz parecer que são todos relatos do período pestilento. E eles até são. No entanto, há aqui muito do que já existia antes de usarmos as máscaras, tanto do que é exploração quanto do que é resistência (é que “a camada da peste ofusca todas as outras”). Ainda assim, é um livro escrito na pandemia, e isso se reflete nos pensamentos que emergem de um isolamento prolongado. Em Quem me dera quedas d’água, Helena retoma a organização das ideias por meio das notas (em seu primeiro livro, sobre a fome; agora, sobre a peste), que contam histórias que, de tão reais, às vezes são difíceis de se acreditar. Vai do causo à causa. Sua escrita parte de uma realidade que é vivida antes de ser teorizada, as palavras chegam depois para dar nome ao que existe como ação. Consequentemente, apresenta à pessoa leitora um pouco do cotidiano de movimentos populares, da ação concreta, desde os perrengues de chegar a quem não tem bilhete de entrada para o mundo informatizado, às alegrias solenes de um churrasco inusitado. E quando nos perdemos em pensamentos buscando termos e categorias abstratas, ela nos lembra que também somos corpo, um corpo que pulsa e deseja na matéria. Helena Silvestre milita em movimentos de moradia desde os 13 anos de idade. Irrequieta, essa mulher afro-indígena vive o que chamou de feminismo inominável e marxismo favelado. Enquanto isso,celebra a vida e agradece, como só quem tem pouco sabe agradecer. (Talvez possamos escapar).
Cecília Farias – Amiga de quebrada e de passeata, tradutora feminista, produtora do Babel PodCast e linguista pesquisadora do Museu da Língua Portuguesa.
Sobre a autora | Helena Silvestre
Helena Silvestre nasceu em Mauá, São Paulo, em 1984. Escritora e integrante do Sarau do Binho, é co-editora da Revista Amazonas. Publicou em 2018 seu primeiro livro, Do verbo que o amor não presta, pelo Selo Sarau do Binho e no ano seguinte publicou Notas sobre a fome, finalista do prêmio Jabuti 2020 e traduzido ao espanhol pela Mandacaru Editorial em 2021. No mesmo ano publicou O sistema e o antissistema, em Co-autoria com Ailton Krenak e Boaventura de Sousa Santos (Editora Autêntica) e em 2022 publicou Quem me dera quedas d´́água, livro que reúne crônicas escritas durante a pandemia. Possui publicações em coletâneas nacionais, internacionais e em revistas acadêmicas como The South Atlantic Quarterly. Pesquisadora independente, é educadora popular integrante da Escola Feminista Abya Yala e foi finalista do prêmio VIVA- Marie Claire 2020 na categoria inovações na educação. Feminista afroindigena, atua na militancia por moradia, terra e território.
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